Sobrevivência ou submissão? O que Freud diria de Round 6?
- Magno - Psicólogo CRP 16/8772
- 18 de jan.
- 3 min de leitura
A série Round 6 conquistou milhões de espectadores ao expor a luta pela sobrevivência em um jogo mortal, enquanto toca em temas profundos como desigualdade, ganância e moralidade. Quando olhamos para essas questões sob a perspectiva de Freud em O Mal-Estar na Civilização, a narrativa ganha ainda mais camadas de significado. Neste artigo, vamos explorar como a série dialoga com conceitos como repressão, felicidade e os conflitos gerados pela cultura, dividindo essa análise em três tópicos.

O JOGO DA SOBREVIVÊNCIA E O SOFRIMENTO HUMANO
Em Round 6, os participantes enfrentam uma luta pela sobrevivência em jogos que contrastam a inocência infantil com uma violência brutal. Essa dinâmica reflete o sofrimento humano, que Freud descreve como inevitável e originado de três fontes principais: o corpo, o mundo externo e as relações interpessoais.
Os personagens da série estão constantemente tentando escapar do sofrimento. Gi-hun, por exemplo, entra no jogo inicialmente para fugir de problemas financeiros, mas se depara com uma realidade onde o preço da sobrevivência é a própria humanidade. Para Freud, essa busca por paliativos – como o dinheiro e a competição – é uma tentativa de minimizar a dor, mas nunca elimina o sofrimento por completo. Assim como os jogadores buscam uma saída no prêmio milionário, as pessoas na vida real procuram paliativos que nem sempre levam à verdadeira felicidade.
REPRESSÃO E CONFLITOS CULTURAIS
Freud aponta que a civilização impõe normas e repressões para manter a ordem social. Em Round 6, isso é evidente na estrutura dos jogos, onde os participantes são obrigados a seguir regras rígidas que limitam sua liberdade. Essa repressão é simbolizada nas votações que decidem continuar ou parar: a escolha é uma ilusão de liberdade, já que os jogadores continuam presos ao sistema cruel.
Além disso, os conflitos internos e externos refletem o dilema que Freud descreve entre o desejo individual e as normas culturais. Os jogadores precisam suprimir emoções básicas como empatia para sobreviver, gerando rebeliões e chacinas no processo. Esse cenário revela como as regras culturais podem transformar instintos humanos primitivos em atos destrutivos, reforçando a tensão entre liberdade e ordem social.
A BUSCA PELA TRANSFORMAÇÃO: INSIGHTS E REFLEXÕES
Gi-hun, o protagonista, representa um ponto-chave para conectar a série à teoria freudiana. Na segunda temporada, ele retorna ao jogo transformado, movido não mais pelo dinheiro, mas pela busca de justiça e mudança. Essa transformação dialoga com o conceito freudiano de conservação psíquica: as experiências do passado moldam nossas ações no presente. Outro ponto crucial é o papel dos símbolos na série, como o cabelo vermelho de Gi-hun. Freud também aborda a importância dos símbolos nas construções culturais e na psique humana, ressaltando como eles ajudam a dar sentido às nossas experiências.
Round 6 não é apenas uma série sobre sobrevivência,
é um espelho das angústias humanas, dos conflitos culturais e da busca por sentido em meio ao caos. Freud, em O Mal-Estar na Civilização, nos ajuda a interpretar esses elementos, mostrando como o sofrimento e a repressão fazem parte da condição humana. Ao refletir sobre essa relação, o espectador é convidado a se questionar: estamos realmente livres ou apenas jogando o mesmo jogo com regras diferentes?
Espero que este artigo tenha sido esclarecedor sobre os aspectos psicológicos presentes no filme. É importante lembrar que a psicologia e a saúde mental são temas essenciais para o nosso bem-estar e qualidade de vida. Se você se interessa pelo assunto e deseja se aprofundar ainda mais, não deixe de conferir nossos artigos anteriores e ficar atento às próximas publicações.
Lembre-se sempre de cuidar da sua saúde mental e buscar ajuda profissional quando necessário.
Referência
HWANG, Dong-hyuk. Round 6. [Série]. Netflix, 2021.
FREUD, Sigmund. Obras completas: O mal-estar na civilização e outros textos. Trad. Paulo César de Souza. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. v. 18.




Comentários